terça-feira, 14 de agosto de 2012

A erradicação da bitolinha

 Como sabemos a inauguração da linha de 76cm da EFOM aconteceu em 1881 e o trecho ligava as estações de Sítio (depois Antônio Carlos) a São João del-Rei e tinha quase 200 Km de extenção mas para atingir o Rio Grande como estava nos planos a ferrovia precisaria partir de São João del-Rei rumo ao oeste do estado até a localidade de Ribeirão Vermelho,então em julho de 1886 os trabalhos em tal trecho foi iniciado e trilhos partiam da estação de São João del-Rei por um portão lateral em relação a saída para Antônio Carlos,já na saída havia um pontilhão com uma passarela para pedestres e logo em seguida a linha percorria uns 2 Km bem no meio de uma avenida,a Avenida Leite de Castro (alvo dessa postagem),depois seguia para Aureliano Mourão,nessa localidade foi construído um triângulo para facilitar as saídas para Ribeirão Vermelho,São João del-Rei e Barra do Paraopeba (a estação que ficava no final da linha tronco).
 Meu avô,meu pai e outras pessoas mais velhas que eu sempre me falavam que o trem passava na avenida e eu ficava imaginando como deveria ser,depois descobri que não havia quase nada quando a linha foi construída,era apenas uma reta de 2 Km,mas não demorou chegar para perto do leito ferroviário as fábricas,casas e comércio,tudo por causa do trem que levava e trazia os passageiros e vários tipos de produtos.Entretanto depois de quase um século de intensa atividade nesse trecho,alguns políticos (entre eles o Tancredo Neves que o povo de São João del-Rei idolatra) decidiram acabar com a linha do sertão (como era conhecido esse trecho),mesmo diante de vários pedidos para que se preservasse o trecho pelo menos até a Fazenda do Pombal os políticos desse país que não se importam com a própria história autorizaram a RFFSA a erradicar o restante da bitolinha (o primeiro trecho a ser erradicado foi provavelmente o ramal do Penedo e o ramal que partia da estação de Congo Fino até a mineração entre Ritápolis e São Tiago por volta de 1948),dos cerca de 700 Km de linha restaram apenas pouco mais de 12 Km entre São João del-Rei e Tiradentes.
 Desde muito tempo eu pesquisava para encontrar alguma foto ou vídeo resgistrando os trabalhadores arrancando a linha e então finalmente consegui (por meio de um amigo) algumas fotos,e aqui estão elas.

Trem com locomotiva 41 saindo pela avenida Leite de Castro em 1982,pouco tempo antes da erradicação,note o pontilhão sobre o córrego do Lenheiro e sua passarela.Autor desconhecido.

Trilhos bem no centro da avenida.Autor desconhecido.

Essa seria a visão do maquinista da primeira foto bem em cima da passagem de nível,2 Km de trilho em linha "reta" pela frente.Autor e data desconhecidos.

Ano 1984,fim de quase 100 anos desse trecho (completaria 100 anos de atividade em 1987),dizem que em alguns lugares a linha foi simplesmente soterrada e em outros arrancada sem piedade.Foto do Sr. Benito Grassi.

Trabalhadores da RFFSA retirando algumas barras de trilho.Foto do Sr. Benito Grassi.

Aqui restou apenas a passagem de nível (a mesma em que podemos ver o trem atravessando na primeira foto) que também seria arrancada para o nivelamento do asfalto.Foto do Sr. Benito Grassi.

Aqui os trilhos do pontilhão já haviam desaparecido restando por enquanto só os dormentes e a passarela de pedestres,a passagem de nível estava sendo destruída e o centro da avenida bem onde os trilhos passavam já havia sido transformado em passarela de pedestres.Foto do Sr. Benito Grassi.

Só restou a estrutura do pontilhão (que não sei se foi aproveitada para a construção da ponte rodoviária que agora ocupa seu lugar),note a passarela de pedestres jogada entre a rua e o córrego,o local onde existia a passagem de nível já estava nivelado e asfaltado.O que havia levado anos para ser construído desapareceu em poucos meses.Foto do Sr. Benito Grassi.
E agora temos essa avenida sem graça,sem o trem,sem graça mesmo.Autor desconhecido.

Dedico essa postagem ao Emilio do blog http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com.br/ que me incentivou a escrever novamente nesse humilde blog.

7 comentários:

  1. AS fotografias da linha sendo arrancada foram de autoria do sr. Benito Grassi, que levou sua "polaroid" para o local da triste obra em questão. Conta ele que nesse dia "encontraram um senhor que chorava copiosamente enquanto os trilhos eram colocados em cima das pranchas. Os funcionários da RFFSA tentaram consolá-lo, mas ele não se conformava, sequer foi conhecido seu nome. Decerto era um ex-ferroviário."

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  2. Acho ter sido muito triste mesmo.Eu lembro de passar nessa passarela que era toda esburacada em 83 e 84,Lembro quando começaram a arrancar os trilhos como naquela terceira foto e também do rolo pressor compactando o asfalto na passagem de nível recém retirada :=(!Logo quando fizeram a ponte, um trator passando sobre ela no lado esquerdo, foi afundado e caiu lá embaixo em pé sobre o córrego!!!Foi um erro irreparável tudo isso!!!!

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  3. Ah,mas nem precisava ser ferroviário ou ex-ferroviário para chorar enquanto a linha ia desaparecendo,bastava apenas ter percebido que uma boa parte da história de Minas Gerais havia perdido o sentido na mente dos corruptos que mandavem nesse país,meu avô quando se lembra das viagens e passeios de trem se emociona.O Sr. Benito deve ter mais desses registros guardados,ainda bem que ele e alguns outros ainda compartilham essas preciosidades com a gente.

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  4. Tenho muitas saudades da época em que brincava nos trilhos. Ficava esperando a Maria Fumaça passar e depois saia correndo tentando alcançá-la rss.
    Um dia, voltarei pra São João.

    Parabéns pelo blog, já está entre meus favoritos

    abraços

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  5. Meu amigo Thiago,

    com alegria vejo que você, ao publicar este post, está novamente aquecendo a caldeira para botar o trem na linha. E nos trilhos que, mesmo tendo sido arrancados, existem para sempre como veias em nosso coração.

    Ouça: o apito da nossa maria-fumaça é um agradecimento por sua volta a este ciberespaço.

    Grande abraço.

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  6. Oi Eva,você poderá obter informações sobre os passeios no site http://www.trensturisticos.fcasa.com.br/ ou pelos telefones (32)3371-8485 ou 0800 285-7000,até onde eu sei o trem está funcionando normalmente.Abraço!

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  7. Parabéns pelo blog, Thiago. Textos bem escritos com belas imagens.
    Sei que escrever em blog demanda tempo em pesquisa, mas anime-se a fazer mais postagens! Não desanime diante de poucos acessos ou comentários. Pense que manter este blog ativo é plantar uma semente para manter vivas a esperança e memória de que as ferrovias voltarão a ter um papel de destaque em nosso país. Se isso não acontecer, pelo menos você terá a satisfação íntima de saber que fez sua parte.
    Você tem o privilégio de morar em São João del-Rei, cidade que mistura o passado e futuro de forma invejável, mantendo as tradições mineiras, mas com frequentes atividades culturais. Não bastasse isso, tem a Bitolinha apitando por aí, no melhor passeio ferroviário do país, na minha opinião. Divulgue neste blog sua rotina e seu olhar para aqueles que não vivem neste lugar maravilhoso.

    Não encontrei um e-mail para contato aqui no blog, então deixo aqui meu convite:
    Sou um historiador e psicólogo mineiro, de Juiz de Fora, e em março de 2012 comecei um blog chamado HistóriaS ( http://historiasylvio. blogspot.com.br ) onde compartilho algumas coisas que considero interessantes sobre Minas Gerais, Trens, História e artes.
    Apesar de não me propor a fazer postagens exclusivamente sobre o mundo ferroviário, como mineiro acredito que trens e Minas se completam tão bem quando goiaba com queijo.
    Convido você a dar uma olhada no meu blog e dar sua opinião, trocar ideias ou sugerir postagens.
    Se gostar do conteúdo, ficarei muito satisfeito se decidir seguir as novas postagens.

    Há marcadores à direita do blog para você pesquisar os assuntos que mais te interessam, mas as postagens específicas sobre trens que estão acessíveis no link abaixo:
    http://historiasylvio.blogspot.com.br/search/label/Trem
    Tenho planejadas postagens sobre os trens-bala, ferromodelismo, a história da Madeira-Mamoré, e mais alguns assuntos em estudo. Se tiver sugestões para outros temas, gostaria de recebê-las.

    Farei novas visitas a este blog.
    Um abraço ferroviarista.

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